Somos substituíveis?
O peregrino Joshua ainda se encontrava no povoado de Gado Manso, e naquela tardinha, sentado na varanda da pensão, pensando sobre a vida, concluiu que estava cansado. Talvez fosse a idade, talvez as muitas caminhadas ou quem sabe fosse seu espírito. Difícil saber precisamente.
Enquanto Joshua estava com estes pensamentos em mente, um inquilino da pensão se aproximou e falou:
– Sabe, peregrino, ouvi uma frase esses dias que me fez pensar muito: “Tudo neste mundo é substituível, inclusive nossos filhos”. Eu achei um absurdo! E discordo totalmente. O que o senhor pensa sobre este assunto?
Joshua olhou para o homem:
– Difícil mensurar esta afirmação e qual o intento de quem a falou…
– Intento nenhum, foi só maluquice mesmo!
– Hm… Talvez ela seja relativa à nossa capacidade de adaptação…
O homem coçou cabeça:
– Como assim?
Joshua se levantou da cadeira e se escorou em sua bengala:
– Meu amigo, tudo nos parece substituível posto que nos adaptamos: uma cidade que deixamos por outra, uma namorada que perdemos, um animalzinho de estimação que foge ou morre e mesmo um filho que é tirado de nós…
– Nada substitui um filho perdido…
Joshua deu um passo na direção do homem:
– Eu sei muito bem disso. Mas, não falo de simplesmente substituirmos pura e levianamente, colocando outra coisa em seu lugar. Não é nesse sentido, e sim no que nos adaptamos justamente para sobrevivermos. Fazemos outras coisas para tornar a dor menos insuportável.
– Não entendi.
– Eu explico. Deixe-me dar um exemplo: suponhamos que estamos acostumados, diariamente, a comermos um certo prato de comida. No dia em que ele nos falta, acabaremos por comer outro, que matará nossa fome, talvez não da maneira que o antigo, não com o mesmo gosto, mas sobreviveremos. E, talvez, descubramos novos temperos, outros aromas.
– Mas um filho é único…
Joshua deu mais um passo na direção do homem:
– Não tenho dúvida. No entanto, precisamos continuar vivendo, não é mesmo? E o mais importante é termos a noção de que o novo nunca preencherá todos os nossos espaços vazios, mas aplacará nossa necessidade de maneira diferente. E não há mal nisso.
– Como assim?
Joshua olhou nos olhos do homem:
– Nossa vida é dinâmica e muitas vezes cruel, isso é verdade. E precisamos da adaptação para continuarmos vivendo. E não que isso substitua, simplesmente, um filho, por exemplo, e sim que ocupa nossa mente, nosso corpo – e Joshua colocou a mão no ombro do homem: – No final, minha verdade lhe digo: nos adaptamos às vicissitudes de nossas vidas posto que é uma questão de sobrevivência. Não podemos nos render, jamais devemos parar de lutar. E sei que, ainda assim, somente tornaremos nossas vidas toleráveis. Mas isso é ser humano, não é mesmo?
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Ligia Maria Ramalho
Gostei
🙂
Ninguém substitui ninguém e ninguém é insubstituível.
A vida sempre nos prega peças,pedaços da gente quando é tirado ,buscamos forças e renascemos das tristezas,incertezas e conseguimos seguir em frente,a lidar com as situações que vezes parece o mar, o mar com ondas ora calmas e ora revoltas.
Abraço de coração:Maria Helena
Bjão Maria Helena!
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Luiz Carlos Carvalho de Melo
Muito bom! O site também é muito especial!
Valeu Luiz!
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Elis Cristina Castro Pfingstag
Excelente texto Rafael Lovato!!! Realmente, concordo que em nome da sobrevivência nos organizamos e adaptamo-nos a tudo!!!Abraço e bom final de semana.
Bjão minha querida Elis!
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Bagual Klein
Excelente texto, que serve de reflexão para este início de feriado… o joelho pode ter apresentado problemas, mas a cabeça está ótima ! Grande abraço, Rafael Lovato !
Abração meu amigo Bagual!